segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A História de um Guerreiro de 12 anos - O dia da Cirurgia

Continuando a história do Vítor, um pequeno guerreiro de 12 anos contando o difícil dia de sua cirurgia. Apesar de estar lidando com algo novo em sua vida, perceba toda sua alegria e vivacidade. Mais abaixo teremos um depoimento de sua mãe sobre o dia da cirurgia e alguns dias que antecederam.

"O Dia da Minha Cirurgia - 29/04/07 - Domingo


No dia 28/04/07, num sábado, eu fui fazer uma ressonância magnética em Bauru, era minha primeira vez, eu fiquei com medo de levar a agulhada do contraste. Eu achei meio estranho o barulho da máquina, mas eu fiquei calmo porque minha tia Léia e meu pai estavam lá.


Minha mãe e meu tio Fábio estavam me esperando lá fora, dando forças. Depois do exame eu esperei uns 20 minutos e apareceu o resultado com uma médica japonesa. Ela disse que eu tinha um tumor, e fui direto para Botucatu aonde me internaram.


Já no outro dia me levaram para a cirurgia que durou 8 horas. É..., 8 horas mesmo! Foi uma cirurgia microscópica, e, depois disso eu consegui abrir o olho inteiro e eu vi meu pai, minha mãe e minha tia Vânia, e mais uma outra pessoa que ainda não sei quem era. Depois fui acordar só ás 6 da manhã. No outro dia não conseguia mexer as pernas e mal movimenta o pescoço, e o pior de tudo, não controlava minhas fezes. Foi difícil acostumar com aquelas enfermeiras, até bonitinhas, enfiando um tubo no meu pipi para eu fazer xixi, ai como dói aquilo.


Foi difícil comer aquela comida de hospital, eu estava acostumado com a comida da minha mãe. Depois de um tempo eu comecei a receber muitas visitas, como tia Vanda, tia Léia, tia Vânia, minha vovó, meu vovô, meu tio Zezito, minha tia Ana Lúcia e, meu tio Marcelo, mais conhecido como “Turco” etc.


Depois de certo tempo, a minha médica Lied me deu alta e eu vim embora para casa, que felicidade encontrar meus amigos e jogar vídeo game. Eu jogava ainda os PS 1, mais até que era legal, o PS 2 vem em outro capítulo.


Veio um monte de gente rezar e até orar, eu nem sou crente, olha o que fizeram eu passar..., que sacanagem fizeram comigo, eu nem podia sair correndo, dava vontade mais não conseguia, fazer o que pô, eu sou católico, será que não tava escrito na minha testa, vinha até gente falar para eu virar São Paulino e até um Corintiano, que absurdo! Eu sou Palmeirense roxo! Somos campeões não perdedores.


Bateu uma vontade de pescar, meu pai e minha mãe me levaram no pesque-pague e, peguei um peixe corintiano, por isso que o peixe tava com uma cara de tonto, ele era tão feio que nem deveriam cobrar aquele peixe com cara de idiota, por isso que era corintiano, mas deu pra divertir, além disso, não peguei só aquele peixe, peguei mais dois ”estes eram Palmeirense”, estes sim eram bonitos, estes eu podia pagar e,  assim, acabou a pescaria aquele dia.


Depois meu tio Fábio me convidou para um churrasco na casa dele, eu queria carne mal passada, que nós apelidamos de “aquela” e, assim, foi uma boa parte da minha vida.


Cerqueira César-SP, 29/04/2008.
Vitor Lovison do Amaral {12 anos}"

Depoimento de Viviani, mãe de Vítor:


"Relembrando...


No dia 28 de abril foi diagnosticado o tumor que o Vitor tinha, um tumor na medula, era num sábado e chegamos no Hospital da UNESP em Botucatu - SP a noitinha, eu fui para o quarto do hospital com meu filho Vitor e, logo em seguida vieram os médicos da neurocirurgia falar comigo.


Neste momento eu estava sozinha com o Vitor, estava neste quarto desde sexta-feira (27/04/2007), dia em que o Vitor foi hospitalizado pela 1ª vez.Neste quarto ficavam mais crianças também. Era um quarto tipo pré-atendimento, um lugar onde a gente ficou até descobrir o que o Vitor tinha. E então, como ia lhe dizendo, os médicos da neurocirurgia vieram me falar a respeito de como seria a cirurgia, do tempo que iria demorar do risco que o Vitor correria  e, também, de suas prováveis seqüelas. Meus Deus! Eu ouvi tudo aquilo de pé, isto mesmo, eu estava de pé, sozinha e passada com tudo o que estava acontecendo. Neste instante meu mundo desabou.


Vi a gravidade da doença e já temia a perda de meu filho. Não tinha outro jeito, diante dos fatos autorizei que fizessem a cirurgia a qual foi marcada para o dia 29/04/2007, num domingo, começaria pela manhã.


Como a vida nos prega cada peça!


Lembro que neste dia 29/04/2007 iria ter um churrasco da turma do futebol o qual o Carlos fazia parte, ele era o goleiro do time e o Vitor sempre o acompanhava nos jogos, sendo seu gandula. Neste dia os dois, o Vitor e o Carlos, iriam participar de um churrasco de confraternização com o pessoal do futebol. Tinha tudo para ser mais um final de semana feliz.


Me lembro também que, o Vitor estava esperando ansioso e feliz para o campeonato de pesca que iria ter no dia 01/05/2007 em nossa cidade, em comemoração ao Dia do Trabalho. Este campeonato sempre ocorreu em nossa cidade por conta desde 01/05 e, sempre levávamos as crianças e eles adoravam ver os peixes. Quem pescasse o peixe maior, menor, mais pesado e maior quantidade, recebiam troféus e presentes (vara de pesca, molinete, etc...). Também vendiam sorvetes, salgadinhos, churrasquinho e refrigerantes neste evento e, o Vitor adorava tudo isto. Coisas que crianças e adultos também gostam. Era um clima de muita festa, encontrávamos amigos e batíamos papo.


Por isso a preocupação do Vitor de ser operado naquele final de semana, pois ele iria perder o campeonato de pesca e, também, o churrasco com o pessoal do futebol.


Vitor estava medicado e por isso não tinha dores e apesar de tudo, ele estava tranqüilo e explicamos a ele sobre sua cirurgia com calma, mas lhe falando que tudo iria ficar bem e que ele ia estar dormindo e não sentiria nada e, assim que tirassem o tumor que estava em suas costas, ele não iria mais sentir dores. 


Antes do Vitor ser operado, ele estava perdendo os movimentos de sua  perna direita, quase não conseguia mais andar, por falta de equilíbrio. Foi o lado que o tumor começou a prejudicar a princípio, no começo de tudo.


No sábado dia 28/04, minha irmã Vanda que mora em Avaré-SP veio para Botucatu-SP junto com seu esposo Marcelo, meu cunhado de apelido “Turco”, assim que soube da gravidade da doença do Vitor e que ele seria operado. Ela veio para ficar comigo, naquela noite de sábado, antes da cirurgia. Na primeira noite que o Vitor ficou hospitalizado, em 27/04, fui eu quem dormiu com ele. Lá as mães e os pais que ficam com seus filhos, dormem sentados em cadeiras em péssimas condições (quebradas). Fico revoltada em saber que os deputados e senadores usufruem de melhor conforto do que os pais que estão com seus filhos nos leitos dos hospitais. 


Também neste mesmo dia (28/04), o Carlos foi quem dormiu com o Vitor no Hospital e no dia seguinte, pela manhã, eles foram colocados em um quarto na enfermaria da pediatria com outras crianças que estavam lá internadas. Eu e minha irmã Vanda, tínhamos ido dormir na  casa de  minha prima de 2º grau, na casa da Vera e do Wanderley, os quais o Vitor chama carinhosamente em sua historinha de  “mãezinha” e “Luxemburgo”, apelidos que o Vitor colocou carinhosamente e merecidamente neles, pois a Vera era uma mãe para nós e, o Wanderley se parece com o Luxemburgo que na época era técnico do Palmeiras. Eles nos ajudaram muito neste e em outras épocas, pois ficamos na casa deles por várias vezes quando o Vitor era hospitalizado, porque no Hospital da UNESP só podia dormir uma pessoa com o Vitor, então quando o Carlos dormia no hospital, eu ficava na casa deles e vice-versa.


Vera (mãezinha), Vítor e Wanderley (Luxemburgo)


A Vera (mãezinha) e suas irmãs Vilma e Vanda (irmã da Vera) , perderam sua mãe com câncer, minha tia Lola (tia de 2º grau). Por isso elas sabiam o que eu e o Carlos estávamos passando, elas nos deram muita força durante o período da doença do nosso guerreiro Vitor.


Quando cheguei ao hospital, na manhã do dia 29/04/2007, o Carlos já havia dado banho no Vitor e já tinha vestido ele com a roupa que iria para o centro cirúrgico.


Vendo meu filho com seu lindo cabelinho preto molhado e com um sorriso nos lábios e o Carlos ao seu lado, senti uma emoção muito forte que, só meu coração de mãe pode descrever, olhei-os e diante do risco que sabia que meu filho correria naquela cirurgia que iria se realizar, pedi a Deus que o protegesse e que não o levasse de mim.


Não queria me lembrar deste dia e daquela cena. Pai e filho juntos naquele quarto de hospital, num domingo que tinha tudo para eles estarem se divertindo no churrasco do pessoal do futebol. Neste momento que escrevo meus olhos se encheram de lágrimas e a saudade de meu filho se tornou mais forte e o amor que sinto pelo Carlos, meu esposo e pai dos meus filhos, se tornou mais forte também,  pois com todo amor e carinho, ele cuidou  e me ajudou a cuidar do Vitor em todos os momentos de sua vida. 


Nossa família, meu pai e minha mãe, a mãe do Carlos, a Geni tia do Carlos,  mais a irmã do Carlos, a Ana Lúcia e seu esposo Marcel, minha irmã Vânia e meu cunhado Beto, mais minha irmã Vanda e meu cunhado Marcelo, a Vera(mãezinha) e o Wanderley(Luxemburgo) e, a nossa filhinha Vivian, estavam todos conosco na sala de espera da UTI enquanto o Vitor estava sendo operado naquele dia tão difícil para todos nós e que mudou todos os nossos sonhos que tínhamos para o Vitor. Tenho certeza que Jesus também estava presente em nossas vidas naquele momento tão difícil, senão não teríamos sidos todos tão fortes. Durante a cirurgia, a cada uma hora, eles nos traziam noticiais de como estava nosso filho e, se a cirurgia estava transcorrendo bem. A cirurgia durou oito horas e, quando terminou, me lembro que o médico cirurgião veio falar comigo e com o Carlos e, neste momento, todos nossos familiares acima citados estavam conosco, inclusive nossa filha Vivian. Ele disse que tinham conseguido tirar 98% do tumor, mas que nós voltaríamos para casa com um bebê, usando fraldas e sem poder andar, ele também falou que ia depender muito da recuperação do Vitor e que isto ele não podia prever, somente com o passar do tempo para se ter certeza se o Vitor iria se recuperar ou não, isto é, voltar a andar. Ouvimos atentamente suas observações, com lágrimas nos olhos. Para nós andar seria o de menos, mas é lógico que não foi fácil para todos nós ouvirmos aquelas palavras vinda de um médico a respeito de nosso filho que já estava se tornando um homenzinho que adorava correr, andar de bicicleta, subir em árvores e principalmente jogar futebol, pois ainda não sabíamos se aquele tumor que havia sido retirado era benigno ou maligno e, se poderia voltar novamente. Conclusão: O pior estava por vir e, eu e o Carlos, não sabíamos ainda a gravidade da doença de nosso filho querido e amado Vitor. 


Obs I:  Peço desculpas se me esqueci de alguém que estava com a gente naquele dia da cirurgia do Vitor. Confesso que não me lembro muito bem daquele dia, pois estava muito nervosa com tudo o que estava se passando e, também, deram calmante para eu e o Carlos  tomarmos.


Obs II:  Quem não pôde estar com a gente lá em Botucatu-SP, ficou rezando e torcendo para que tudo desse certo com o Vitor durante e depois da cirurgia.


Continuo no próximo capítulo.


Viviani."


Meus amigos, se quiserem, podem enviar um e-mail pessoal aos pais do Vitor, Viviani e Carlos, pois eles ficarăo muito felizes.

carlosalbertodoamaral@hotmail.com


Os grifos no texto de Vítor e de sua mãe é de responsabilidade deste blogueiro.

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