terça-feira, 9 de novembro de 2010

A História de um Guerreiro de 12 Anos - As estrelas agradecem

Neste trecho, chega-se ao final da história do guerreiro Vítor. Hoje abandonei o script História + Depoimento da mãe e deixarei apenas a história do garoto.

O motivo que tomei esta decisão, inclusive sem combinar com seu pai Carlos, é para valorizar num único post, o depoimento de sua mãe Viviani, uma mãe espetacular, fora de série, além dos depoimentos que receberam na publicação de no site Saudades e Adeus.

Todo o aprendizado que recebemos no decorrer de nossa vida, deve ser valorizado. Partindo de uma criança então, a valorização é bem maior, pois o sentimento é puro.

Sobre o título da postagem, não tenho dúvidas que Vitor, o guerreiro palmeirense, deixou de brilhar junto a  nós, para passar sua luz lá de cima, iluminando a todos.


"Eu, em Botucatu, Fazendo Quimioterapia (Continuação...)


Voltei para Botucatu no dia 05 de maio a fim de realizar mais uma sessão de quimioterapia, ou seja, iria fazer mais quatro sessões por mês. Como esta nova quimioterapia era mais forte do que as outras, pois eu estava passando muito mal, a Dra. Lied resolveu fazer apenas três sessões.  Como sempre, comecei a passar mal, tinha vômitos, tremores, fraqueza e meu xixi não estava mais saindo normalmente. Como fiquei desidratado de tanto vomitar e não me alimentar direito, as veias dos meus braços e de minhas mãos sumiram, ou seja, as enfermeiras Bianca, “Léo”, Vandinha, Valéria e “Chico” não conseguiam pegá-las para eu continuar as sessões de quimioterapia. Foi necessário então pegar veias dos meus pés. Fiquei com os braços e as mãos cheias de picadas e roxas pelas agulhadas que levei. Foi difícil terminar esta sessão de quimioterapia. No último dia, a Dra. Lied pediu para a Bianca e um outro enfermeiro, passar uma sonda no meu pipi para que eu pudesse fazer xixi, porque eu estava com um “bexigão”, ou seja, minha barriga estava estufada.


Após, fomos embora para casa. Não foi fácil acostumar com a sonda, pois tinha que estar com ela dia e noite e, de vez em quando, tinha que esvaziar a bolsa. Comecei a ficar com febre que chegou a 40 graus, e também tive tremores pelo corpo todo. No dias das mães, o médico da Argentina, Dr. Elias Mateus e sua esposa,  estiveram em minha casa para uma nova consulta e, após me consultar, deixou mais remédios de homeopatia.


No dia seguinte, como estava passando mal, com febre alta e tremedeiras pelo corpo, veio em minha casa, na parte da manhã, uma enfermeira que trabalha no laboratório de minha tia “Léia” e colheu meu sangue para fazer exames. A tarde saiu o resultado, e então foi constatado que minha defesa estava muito baixa. No dia seguinte, ou seja, dia 12 de maio fui parar novamente no hospital de Botucatu, onde a Dra. Lied já me esperava para mais uma internação, e lá comecei a tomar antibióticos, pois estava novamente com infecção.


Foi colhido mais sangue meu para verificar que tipo de bactéria eu tinha. Após, o exame constou que eu estava com infecção no sangue pelo corpo todo. Novamente uma nova infecção das “brava”, comecei a inchar, inchei tanto que meu saquinho parecia uma bexiga cheia , não comia quase nada, fiquei muito fraco, dormia quase o dia todo e tomava muitos remédios, tanto pela boca, como pela veia. Tomei sangue, plaquetas e soro a vontade. Ficava dia e noite deitado, tomava banho na cama e quase não falava, pois tinha muito sono. Tive várias picadas nos braços e mãos para retirada de meu sangue e para receber medicamentos, às vezes minhas veias cansavam e ficavam roxas e doloridas.  As enfermeiras não mais conseguiam achar veias boas em minhas mãos e braços e, então, comecei a tomar soro e medicamentos nas veias de meus pés. Algumas veias de meus pés também cansaram e também ficaram roxas. Já estava ficando difícil achar veias pelo meu corpo. As enfermeiras de lá, ou seja, da enfermaria da pediatria eram todas legais, pois me tratavam com muito carinho. Lá vendi alguns de meus livrinhos.


Uma médica de nome Paula que lá trabalha, comprou para mim um queijo fresco, uma barra de chocolate e um saquinho de cereal de chocolate para eu comer, essa médica era muito legal para mim, me tratava com muito carinho.


A psicóloga de nome Maria Izabel que também lá trabalha, sempre ia me visitar, pois ela gosta muito de mim e eu dela. Já faz tempo que ela acompanha o meu tratamento e sempre me dando forças para continuar a luta. Também vendi para ela um livrinho meu.


Não foi fácil ficar internado desta vez, pois tive que ficar deitado o tempo todo. Meu passa-tempo era assistir televisão. Recebi muitas visitas quando estava internado, lá estiveram minhas tias Ana Lúcia, Luciana e Vânia, meus tios “Beto”, Zézito e Marcel, meus primos Mateus, Murilo, Daniel e Ana Amélia. Também estiveram lá meus avós José e Maria, Vanderlei, Vera, Vilma e Tiago também foram me visitar.  Minha mãe me visitou todos os dias, e ficou comigo duas noites. Meu pai e uma enfermeira de nome Nivia que lá trabalha, foram convidados por um casal (João e Silvana) para que fossem padrinhos de batizado de seu filho André de apenas quatro meses, que lá estava internado por cirrose hepática.


Não fui ao batizado, pois, como já tinha permissão para deixar o quarto, nessa hora eu estava na escolinha de informática de lá, mas sei que o batizado foi feito por um padre e foi realizado no quarto em que André estava internado. Os médicos das dores, Drs. José Pedro e André também iam me consultar todos os dias, e também iam nutricionistas, fisioterapeutas e médicos plantonistas. Um fato muito engraçado aconteceu comigo quando lá estive internado, pois um médico radiologista que disse ser corintiano foi até meu quarto, perguntou se eu me chamava Vitor, perguntou também que time eu torcia, e eu disse a ele que era palmeirense e, então, ele disse brincando que só ia realizar aquele exame de encéfalo em mim porque eu era palmeirense. Como eu estava meio sonolento, ele perguntou para minha mãe se eu tinha tido convulsão, e, minha mãe disse que não, e ficou sem entender nada, até mesmo a enfermeira Nivia que estava trocando meu soro naquela hora, não notou que o exame estava sendo feito na pessoa errada, ou seja, o Vitor que iria fazer aquele exame não era eu, e sim um outro Vitor que também lá estava internado, em outro quarto. O exame foi feito em mim por uma máquina, ele colocou vários fios em minha cabeça. No final de tudo, não ficamos sabendo do resultado, é mole.


Minha avó Maria, mãe do meu pai, recebeu noticia do médico do hospital de Botucatu, que iria ser internada na terça-feira, ou seja, no dia 14 de maio para ser operada no dia seguinte. Meu pai me disse que minha avó ia ser operada de chagas no intestino. Meu pai me contou também que chagas é uma doença que as pessoas que moravam em sítios, em casas de madeira ou de barro, eram picadas por um bicho de nome barbeiro, que transmitia essa doença (chagas). Fiquei sabendo que minha avó tinha feito a cirurgia que demorou horas, e não passou bem na cirurgia, pois demorou para se recuperar.


No dia 20 de maio, como eu já estava bem melhor, recebi alta e voltei para minha casa, mas minha avó ficou lá se recuperando. Após alguns dias ela teve complicações, e novamente teve que fazer uma nova cirurgia, agora de emergência. Minha avó ficou de coma induzido, pois teve uma infecção generalizada.  Ela ainda passou por uma terceira cirurgia devido a uma nova complicação e, após, foi transferida para a UTI daquele hospital, onde ficou em recuperação.


Dia 3 de junho, voltei com meus pais e minha irmã para o hospital de Botucatu para retorno com a Dra. Lied que, após me consultar, disse que iria mandar um enfermeiro tirar minha sonda para ver se eu conseguia fazer xixi normalmente. Foi o enfermeiro “Chico” que tirou minha sonda e, após, voltamos para nossa casa. Como é gostoso ficar sem a sonda. Graças a Deus, aos poucos, comecei a fazer xixi normalmente. Minhas pernas continuam repuxando sem eu querer, não dói, mas me incomoda, e tomo remédio para isso, mas ele não faz muito efeito. Não sinto nenhuma dor, aos poucos vou voltando ao normal. Passeio com minha cadeira de roda em vários lugares desta cidade. Vou sozinho até a casa de minha avó, mãe da minha mãe.


Almoçando no Shopping
Dia 11 de junho fomos até Bauru onde fiz uma nova ressonância, onde ficou constatado que o tumor tinha diminuído, ficamos felizes e aproveitamos para almoçar no Shopping. Parei de tomar morfina no dia 12, pois graças a Deus eu não estava mais sentindo dores, e também parei de tomar o Decadron, Omeprazol e Humectol D.


Resolvi criar codornas num viveiro que meu avô tinha em seu quintal. Comprei quatro codornas a R$ 2,50 cada, com o dinheiro que eu ganhava com as vendas de meu livrinho. Comprei também o bebedouro e ração para elas. Eu fiquei responsável de cuidar das codornas, mas os dias estavam muitos frios nesta época e, como eu acordava muito tarde, meu avô achou melhor me dar o viveiro de presente para mim e, então, meu pai, meu avô, meu tio Ismael e o amigo do meu pai que tem uma camioneta e que se chama “Índio”, trouxeram o viveiro até minha casa e ele foi colocado no fundo do meu quintal com as minhas quatro codornas. Como o viveiro era grande, meu pai então comprou mais codornas, elas começaram a botar.


Dia 18 de junho retornei ao Hospital de Botucatu para a Dra. Leid me examinar e, como eu tinha ficado muito ruim com a última quimioterapia, ela disse que eu iria fazer esta nova quimioterapia via oral, com comprimidos, e então me passou sete comprimidos de nome Vepesid, eram enormes, pareciam ovos de codorna, só faltavam as pintinhas pretas. Comecei a tomar tais comprimidos no dia 23 e era um por dia, eu tomava a noite antes de dormir. Os comprimidos me deixavam com o estomago ruim e sem fome, às vezes eu vomitava um pouco.


Ganhei um computador usado de uma empresa de São Paulo, de nome Rochtief, a qual meu pai tinha há tempos mandado um e-mail pedindo um computador para mim. Eles trouxeram o computador em minha casa e, como eu já tinha um computador, este ficou para minha irmã Vivian.


Dia 11 de julho, novamente o médico da Argentina e sua esposa estiveram em minha casa, ele me consultou e deixou mais remédios parar eu tomar, disse que meu tratamento estava indo bem e que era para eu continuar.


Vivian, Vítor e juliana, funcionária do CDI
Meus pais me levaram na cidade de Bauru fazer uma nova ressonância magnética (Craniana e Cervical) e levamos a Patrícia que trabalha em casa, junto, pois ela nunca tinha ido para Bauru, fiz a ressonância no CDI, e depois fomos para o Shopping passear e, em seguida, assistimos um filme super legal em um dos cinemas do Shopping, e depois fomos até o McDonalds comer um lanche e, como já era noite, voltamos para nossa cidade. Apesar de fazer a ressonância, foi uma viagem legal, pois divertimos muito.


Minha história ainda não terminou, tem mais ainda, só que ainda não escrevi.


Em breve continuarei!" (Esta foi a última parte da emocionante história de Vitor, pois, depois disso, ele não conseguiu mais escrever)


Cerqueira César - SP, agosto de 2008.       
Vitor Lovison do Amaral. 

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Depoimento dos Pais de Vitor

"...Nascemos para transformar um pedacinho do mundo em que vivemos.


Com certeza, nosso filho Vitor fez a sua parte, pois um filho é complemento, uma benção, uma jóia preciosa, não destruição de sonhos.


Desejamos a todos que tiveram a oportunidade de ler a história do nosso filho Vitor, muita saúde, amor, união, paz e muita fé!  Viviani e Amaral.


Obs.: No dia 31/12/2008, ficamos sabendo através da Dra. Lied, para nossa alegria que, o remédio quimioterápico de nome Temodal, o qual o Vitor fez uso, agora é distribuído de forma gratuita na UNESP de Botucatu - SP, para pacientes que tem o mesmo tipo de tumor que o Vitor tinha, ou seja, no sistema nervoso central."

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